quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Os Anéis (Cap. 1)

P 1

Aí aí, e um novo dia nasceu! Novidade? Até onde sei não, meio que é óbvio, e eu sei disso, mas sempre que acordo acho que é a primeira coisa que me vem à cabeça. Ok, ok... Nem todos os dias, em alguns me pergunto: “Já?” e só depois penso sobre o dia que nasceu.
De qualquer forma hoje estou na primeira opção, apesar de ser primeiro dia de aula, e ser o fim oficial das minhas adoradas e rápidas férias de verão, prometi a mim mesmo entrar na positividade, afinal apesar de ser o fim das férias é também o recomeço das aulas, reencontrarei meus amigos, a escola, voltarei ao time, e tem as aulas, ok, ok... Não pensarei nessa parte, vou pensar na parte boa.
- Pietro! Tem gente querendo usar o banheiro também!
Acho que acabou o tempo para pensar na vida, do jeito que mãe grita do lado de fora, e bate na porta deve ter acabado há muito tempo.
- Pietro!
Incrível como ela se torna insistente nessas horas, fico com a impressão de que ela poderia chamar meu nome por horas, e na boca dela meu nome ganha uma sonoridade especial, deve ser pela quantidade de vezes que ela já o usou, não sei, deve ser.
- Já saí Dona Clara! – disse já abrindo a porta do banheiro, lhe dando um beijo na bochecha, e propositadamente mexendo a cabeça para que meu cabelo a molhe, deixando-a ainda mais irritada – Já saí!!
- O que tu tanto faz nesse banheiro? Desse jeito terei que chamar os bombeiros ou um psicólogo... – apesar da cara de brava ao dizer essas palavras, sinto que lá por dentro ela ta rindo, ela só não quer demonstrar.
Aí aí! Gosto tanto de pensar nessas palavras, elas podem significar tanto, me ajuda a expressar aquilo que não sei como expressar, hoje mesmo primeiro dia do segundo ano do Ensino Médio, apesar de ser a mesma escola, passei as férias na fazenda do meu tio e sabe-se lá o que aconteceu na cidade enquanto estava longe.
Não que em Ventura aconteça muita coisa, normalmente nada acontece, aqui até casamento vira evento do ano, contudo no Ensino Médio a vida é agitada, quem está com quem, quem senta com quem, e começo das aulas sempre vem com cabelos novos, quilos a menos, músculos a mais, enfim...
Ok, ok! Agora to me achando meio fútil, deveria estar pensando na paz mundial, ou nos problemas das pessoas, ao em vez disso to pensando nisso, mas quem acordaria no primeiro dia de aula e pensaria essas coisas? Enfim, fazer o que... Essas besteiras tornam a vida com graça, já que nada acontece na cidade, algo tem que ser percebido.
Como é primeiro dia de aula a escolha da roupa é importante, sendo fútil de novo, apesar disso já cansei de olhar para elas, é melhor escolher logo uma. Vou seguir a tradição, minha adorada calça jeans que incrivelmente parecem mais apertadas do que nunca, e minha camisa pólo vermelho, gosto de vermelho, e vou aproveitar para usá-la enquanto não entregam as chatas camisas do uniforme da escola.
Em falar em escola, acho que demorei muito me arrumando, já to meio atrasado.
- Você não vai tomar café? – pergunta minha mãe, depois de lhe dar um beijo de despedida e sair correndo pela porta dos fundos.
          Andar é bom, mas correr para mim sempre foi mais divertido, e correndo chego à escola a tempo de entrar antes do portão fechar, e infelizmente a tempo do discurso tradicional de abertura do ano letivo.
- Pietro querido! – reconheço essa voz, só pode ser Samantha – Esperei seu telefonema! – é Samantha mesmo, só ela se jogaria no meu pescoço, antes mesmo de dizer oi direito, e me roubaria um beijo.
- Não tive tempo Samantha disse que iria para a casa do meu tio, não tive como lhe telefonar... – apesar da cara de tristeza que ela fez mostrando o quanto estava sentida por isso, eu não estava nem ai, sabia que isso passaria daqui a pouco.
          Enquanto não passava, fui perguntando a ela sobre as férias, e a cara de sentida foi se desfazendo enquanto entravamos, e íamos para o auditório. Consegui desfazer a cara, porém teria que escutar muitos minutos escutando ela falar sobre ela mesma, sem nem ao menos querer saber sobre a vida dos outros. Samantha é o tipo de pessoa que tem certeza que o mundo gira em torno dela, mas era muito gostosa! E com beijos ela se calava então, nem sempre isso me importava.
          Passando pelo corredor fomos revendo todo mundo, alguns mais magros, outros mais gordos, e como imaginava casais novos apareceram na escola, e enfim nos sentamos no auditório para a eternamente longa palestra de abertura.
          ZZZZZZZ...
          Depois de sabe-se lá quantas horas, fomos liberados para o resto do dia de aula, que na verdade seriam apenas aulas de apresentação, onde todos os professores nos perguntariam sobre nossos dias de férias, e o que faríamos nesse novo e incrível [assim diziam] ano letivo.
          Quando o último sinal tocou, já estava sendo levado pelo pessimismo enquanto a professora de química contava sobre os assuntos que estudaríamos e dos quais só o nome já me pareciam difíceis.
          Nem esperei Samantha os 20 minutos de intervalo já tinham sido o bastante para me encher da presença dela, além de que queria muito ir para casa, a tarde iria fazer corrida até o cruzeiro.
          Perto das 15 horas, já tinha almoçado apesar da chatice de ter que esquentar, mãe passava o dia na escola trabalhando, só nos encontrávamos a noite, e como só moramos os dois passava a tarde sozinho. Sai de casa a caráter para fazer uma maravilhosa corrida.
          Passei pelo centro da cidade, pela minha escola, pela praça, fui seguindo no mesmo ritmo, aproveitando esses momentos em que não pensava em nada, mas parecia resolver todos os meus problemas.
          Sentia meu cabelo ser jogado para trás, o vento ao redor, os postes, as árvores passando por mim, como um borrão bem conhecido, já conhecido por mim que tanto passei por ali.
Depois de meia hora de corrida, cheguei ao topo do cruzeiro, quase me jogando no chão para descansar, aproveitar o vento maravilhoso, na sombra da única arvore.
          Comecei a olhar as nuvens, e os desenhos que se formavam, enquanto bebia água. Fechei os olhos, para aproveitar meu tempo de descanso, para depois comer os sanduíches que tinha trazido. Estava com saudade de fazer isso, de fazer um piquenique na pedra, mais o bom é que mesmo depois de um mês fora estava tudo do jeito que tinha deixado.
          Quer dizer diria um pouco mais sujo que o normal, alguém deve ter feito piquenique no domingo e esqueceu, propositadamente ou não, de catar o lixo. De qualquer forma estar ali, me trazia paz, desde criança quando vinha com minha mãe, me apaixonei por esta parte da cidade, a falta de prédios e o verde, azul, branco, o colorido da natureza me encanta.
          Enquanto pensava sem pensar, senti algo bater na minha testa, abri os olhos e procurei para ver se tinha alguém, afinal a arvore não dava frutos, e suas folhas com certeza não eram tão pesadas.
          Ao redor nada, já sentado vi que ao lado da pedra-travesseiro tinha algo brilhando, um anel na verdade, o peguei tão amarelo, será que era ouro? Provavelmente não, tinha uma linha preta em suas bordas e leves riscos em torno dele.
          Resolvi colocar dentro da bolsa, não teria como entregar ao dono mesmo... Ei será que foi isso que bateu na minha testa? Mais cairia de onde? Com certeza ninguém teria jogado em mim, não teria como alguém se esconder por ali, e eu teria visto alguém por ali.
          Olhei por algum tempo ao meu redor, pensando em como teria sido isso. Deixa pra lá, pensei em determinado momento, já tinha perdido tempo demais pensando.
          Lanchei meus muito gostosos sanduíches de frango, voltei a me deitar um pouco e olhar as nuvens.
16h38min horas... Acho que ta na hora de voltar! Mãe sempre volta às 18 horas, e queria preparar algo para o jantar, então era melhor ir logo. Peguei minha bolsa, respirei fundo, e me arrumei para voltar para casa, correndo claro...
Só que dessa vez, queria correr mais rápido, o sol já estava bem mais fraco, seria mais agradável mesmo. De novo senti o vento que levantou meu cabelo, fechei os olhos para sentir essa sensação mais profundamente, já conhecia o caminho mesmo.
O vento tava mais forte que o normal, não sentia mais o chão nos meus pés, o que me fez rir, parecia que estava voando. Abri os olhos, ainda rindo, um riso que não durou muito tempo.
Quando abri os olhos, descobri porque não estava sentindo o chão, porque o chão estava longe de mim, eu estava voando de verdade!!!
Como assim? Procurei o chão com os pés, e foi quando parei de correr no ar, e comecei a descer, o chão estava se aproximando rápido demais.

Ahhhh!

Nenhum comentário:

Postar um comentário