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Aí aí, e um novo dia nasceu! Novidade? Até
onde sei não, meio que é óbvio, e eu sei disso, mas sempre que acordo acho que
é a primeira coisa que me vem à cabeça. Ok, ok... Nem todos os dias, em alguns
me pergunto: “Já?” e só depois penso sobre o dia que nasceu.
De qualquer forma hoje estou na primeira
opção, apesar de ser primeiro dia de aula, e ser o fim oficial das minhas
adoradas e rápidas férias de verão, prometi a mim mesmo entrar na positividade,
afinal apesar de ser o fim das férias é também o recomeço das aulas,
reencontrarei meus amigos, a escola, voltarei ao time, e tem as aulas, ok,
ok... Não pensarei nessa parte, vou pensar na parte boa.
- Pietro! Tem gente querendo usar o banheiro
também!
Acho que acabou o tempo para pensar na vida,
do jeito que mãe grita do lado de fora, e bate na porta deve ter acabado há
muito tempo.
- Pietro!
Incrível como ela se torna insistente nessas
horas, fico com a impressão de que ela poderia chamar meu nome por horas, e na
boca dela meu nome ganha uma sonoridade especial, deve ser pela quantidade de
vezes que ela já o usou, não sei, deve ser.
- Já saí Dona Clara! – disse já abrindo a
porta do banheiro, lhe dando um beijo na bochecha, e propositadamente mexendo a
cabeça para que meu cabelo a molhe, deixando-a ainda mais irritada – Já saí!!
- O que tu tanto faz nesse banheiro? Desse
jeito terei que chamar os bombeiros ou um psicólogo... – apesar da cara de
brava ao dizer essas palavras, sinto que lá por dentro ela ta rindo, ela só não
quer demonstrar.
Aí aí! Gosto tanto de pensar nessas palavras,
elas podem significar tanto, me ajuda a expressar aquilo que não sei como
expressar, hoje mesmo primeiro dia do segundo ano do Ensino Médio, apesar de
ser a mesma escola, passei as férias na fazenda do meu tio e sabe-se lá o que
aconteceu na cidade enquanto estava longe.
Não que em Ventura aconteça muita coisa,
normalmente nada acontece, aqui até casamento vira evento do ano, contudo no
Ensino Médio a vida é agitada, quem está com quem, quem senta com quem, e começo
das aulas sempre vem com cabelos novos, quilos a menos, músculos a mais,
enfim...
Ok, ok! Agora to me achando meio fútil, deveria
estar pensando na paz mundial, ou nos problemas das pessoas, ao em vez disso to
pensando nisso, mas quem acordaria no primeiro dia de aula e pensaria essas
coisas? Enfim, fazer o que... Essas besteiras tornam a vida com graça, já que
nada acontece na cidade, algo tem que ser percebido.
Como é primeiro dia de aula a escolha da
roupa é importante, sendo fútil de novo, apesar disso já cansei de olhar para
elas, é melhor escolher logo uma. Vou seguir a tradição, minha adorada calça
jeans que incrivelmente parecem mais apertadas do que nunca, e minha camisa
pólo vermelho, gosto de vermelho, e vou aproveitar para usá-la enquanto não
entregam as chatas camisas do uniforme da escola.
Em falar em escola, acho que demorei muito me
arrumando, já to meio atrasado.
- Você não vai tomar café? – pergunta minha mãe, depois
de lhe dar um beijo de despedida e sair correndo pela porta dos fundos.
Andar é
bom, mas correr para mim sempre foi mais divertido, e correndo chego à escola a
tempo de entrar antes do portão fechar, e infelizmente a tempo do discurso
tradicional de abertura do ano letivo.
- Pietro querido! – reconheço essa voz, só pode ser
Samantha – Esperei seu telefonema! – é Samantha mesmo, só ela se jogaria no meu
pescoço, antes mesmo de dizer oi direito, e me roubaria um beijo.
- Não tive tempo Samantha disse que iria para a casa do
meu tio, não tive como lhe telefonar... – apesar da cara de tristeza que ela
fez mostrando o quanto estava sentida por isso, eu não estava nem ai, sabia que
isso passaria daqui a pouco.
Enquanto
não passava, fui perguntando a ela sobre as férias, e a cara de sentida foi se
desfazendo enquanto entravamos, e íamos para o auditório. Consegui desfazer a
cara, porém teria que escutar muitos minutos escutando ela falar sobre ela
mesma, sem nem ao menos querer saber sobre a vida dos outros. Samantha é o tipo
de pessoa que tem certeza que o mundo gira em torno dela, mas era muito
gostosa! E com beijos ela se calava então, nem sempre isso me importava.
Passando
pelo corredor fomos revendo todo mundo, alguns mais magros, outros mais gordos,
e como imaginava casais novos apareceram na escola, e enfim nos sentamos no auditório
para a eternamente longa palestra de abertura.
ZZZZZZZ...
Depois de
sabe-se lá quantas horas, fomos liberados para o resto do dia de aula, que na
verdade seriam apenas aulas de apresentação, onde todos os professores nos
perguntariam sobre nossos dias de férias, e o que faríamos nesse novo e
incrível [assim diziam] ano letivo.
Quando o
último sinal tocou, já estava sendo levado pelo pessimismo enquanto a
professora de química contava sobre os assuntos que estudaríamos e dos quais só
o nome já me pareciam difíceis.
Nem
esperei Samantha os 20 minutos de intervalo já tinham sido o bastante para me
encher da presença dela, além de que queria muito ir para casa, a tarde iria
fazer corrida até o cruzeiro.
Perto das
15 horas, já tinha almoçado apesar da chatice de ter que esquentar, mãe passava
o dia na escola trabalhando, só nos encontrávamos a noite, e como só moramos os
dois passava a tarde sozinho. Sai de casa a caráter para fazer uma maravilhosa
corrida.
Passei
pelo centro da cidade, pela minha escola, pela praça, fui seguindo no mesmo
ritmo, aproveitando esses momentos em que não pensava em nada, mas parecia
resolver todos os meus problemas.
Sentia meu
cabelo ser jogado para trás, o vento ao redor, os postes, as árvores passando
por mim, como um borrão bem conhecido, já conhecido por mim que tanto passei
por ali.
Depois de meia hora de corrida, cheguei ao
topo do cruzeiro, quase me jogando no chão para descansar, aproveitar o vento
maravilhoso, na sombra da única arvore.
Comecei a
olhar as nuvens, e os desenhos que se formavam, enquanto bebia água. Fechei os
olhos, para aproveitar meu tempo de descanso, para depois comer os sanduíches
que tinha trazido. Estava com saudade de fazer isso, de fazer um piquenique na
pedra, mais o bom é que mesmo depois de um mês fora estava tudo do jeito que
tinha deixado.
Quer dizer
diria um pouco mais sujo que o normal, alguém deve ter feito piquenique no
domingo e esqueceu, propositadamente ou não, de catar o lixo. De qualquer forma
estar ali, me trazia paz, desde criança quando vinha com minha mãe, me
apaixonei por esta parte da cidade, a falta de prédios e o verde, azul, branco,
o colorido da natureza me encanta.
Enquanto
pensava sem pensar, senti algo bater na minha testa, abri os olhos e procurei
para ver se tinha alguém, afinal a arvore não dava frutos, e suas folhas com
certeza não eram tão pesadas.
Ao redor
nada, já sentado vi que ao lado da pedra-travesseiro tinha algo brilhando, um
anel na verdade, o peguei tão amarelo, será que era ouro? Provavelmente não,
tinha uma linha preta em suas bordas e leves riscos em torno dele.
Resolvi
colocar dentro da bolsa, não teria como entregar ao dono mesmo... Ei será que
foi isso que bateu na minha testa? Mais cairia de onde? Com certeza ninguém
teria jogado em mim, não teria como alguém se esconder por ali, e eu teria
visto alguém por ali.
Olhei por
algum tempo ao meu redor, pensando em como teria sido isso. Deixa pra lá,
pensei em determinado momento, já tinha perdido tempo demais pensando.
Lanchei
meus muito gostosos sanduíches de frango, voltei a me deitar um pouco e olhar
as nuvens.
16h38min horas... Acho que ta na hora de
voltar! Mãe sempre volta às 18 horas, e queria preparar algo para o jantar,
então era melhor ir logo. Peguei minha bolsa, respirei fundo, e me arrumei para
voltar para casa, correndo claro...
Só que dessa vez, queria correr mais rápido,
o sol já estava bem mais fraco, seria mais agradável mesmo. De novo senti o
vento que levantou meu cabelo, fechei os olhos para sentir essa sensação mais
profundamente, já conhecia o caminho mesmo.
O vento tava mais forte que o normal, não
sentia mais o chão nos meus pés, o que me fez rir, parecia que estava voando.
Abri os olhos, ainda rindo, um riso que não durou muito tempo.
Quando abri os olhos, descobri porque não
estava sentindo o chão, porque o chão estava longe de mim, eu estava voando de
verdade!!!
Como assim? Procurei o chão com os pés, e foi
quando parei de correr no ar, e comecei a descer, o chão estava se aproximando
rápido demais.
Ahhhh!
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